IPVA: como crise gerada pela pandemia deixou o imposto mais caro em 2022

O IPVA deve ter reajuste médio acima de 22%

“Qual a lógica do IPVA aumentar?? Ano passado meu IPVA era R$ 670 e agora foi pra R$ 840… Tipo????”

“Tá extorsivo esse IPVA, o meu aumentou 20%, imagina se ele não fosse uma lata velha com mais de 10 anos de uso.”

“Mano, fui ver o IPVA do meu carro agora, vou pagar 36% a mais do que do ano passado.”

“Meu carro ficou um ano mais velho e o IPVA dele ficou foi mais caro.”

Basta pesquisar por IPVA nas redes sociais para se deparar com todo tipo de reclamação.

Os brasileiros se deparam nesse início de ano com reajustes de 20%, 30% ou até acima disso. O forte aumento do Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores reflete o comportamento incomum do mercado de veículos usados em 2021.

No ano passado, o valor dos usados subiu em média 22,54%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), cuja tabela serve de referência para a cobrança do imposto.

Desarranjo na cadeia produtiva

Segundo Milad Kalume Neto, da Jato Dynamics, consultoria especializada no mercado automotivo, esse fenômeno atípico dos carros velhos ficando mais caros se deve a uma combinação de fatores: falta de semicondutores (matéria-prima), aumento de preços das commodities, encarecimento do frete marítimo e alta do dólar.

Diversos desses fatores são uma decorrência direta dos desarranjos provocados na economia mundial pela pandemia do coronavírus.

“Os preços dos carros 0km subiram muito em função de um cenário internacional. Tivemos uma escassez de semicondutores que limitou a produção. E aí, em função da lei de oferta e demanda, os preços dos veículos novos acabaram subindo”, diz Kalume Neto.

Em 2020, a produção nacional de veículos caiu 31,6% em relação a 2019, para pouco mais de 2 milhões de unidades, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Em 2021, até novembro, o setor estava longe da recuperação completa, com um aumento de produção no acumulado do ano de 12,9%. Considerando apenas o segmento de veículos de passageiros, no entanto, a produção continuou em queda de janeiro a novembro de 2021, de 2,8%.

“Em paralelo a isso, todos os insumos usados na produção de automóveis subiram: ferro, aço, alumínio, borracha, resinas plásticas. Automaticamente, isso impacta no preço do veículo também”, cita o consultor.

“O transporte marítimo também subiu absurdamente, o que onera o valor para a chegada de peças ao mercado brasileiro. Por fim, tivemos uma terrível desvalorização do real. Todos esses itens pesaram diretamente no preço do veículo novo.”

Com a escassez e encarecimentos dos veículos novos, os consumidores brasileiros passaram a procurar mais os usados. E foi essa procura maior que levou à alta de mais de 20%, em média, dos valores registrados na tabela Fipe.

Segundo a Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores), entidade que representa o setor de lojistas de seminovos e usados, foram 15 milhões de usados vendidos no Brasil em 2021, aumento de 17,8% em relação a 2020.

Como é calculado o IPVA

O IPVA é um imposto estadual – cada Estado brasileiro define a sua alíquota. Em São Paulo, a alíquota é de 4%, aplicados sobre o valor do veículo na tabela Fipe em setembro do ano anterior. Um exemplo: em novembro, o carro mais vendido do Brasil foi o Chevrolet Onix.

Um Onix modelo 2018 (Joy 1.0 Flex) valia R$ 35.002 em setembro de 2020 e passou a valer R$ 44.998 em setembro de 2021, uma valorização de 28,6%.

Assim, o IPVA desse veículo seria de R$ 1.400,08 em 2021 e de R$ 1.799,92 neste ano, um aumento de 28,6%, equivalente à valorização do veículo no ano.

Para tentar aliviar a conta salgada, muitos Estados estão oferecendo descontos relevantes no pagamento do IPVA à vista.

A Bahia, por exemplo, está dando desconto de 20% para quem pagar o imposto de forma antecipada, até 10 de fevereiro.

“A economia brasileira passa por um momento difícil com a volta da inflação, e o setor de automóveis tem sido ainda mais atingido por uma conjuntura internacional de escassez de peças que se reflete em aumento nos preços dos carros”, destacou o secretário da Fazenda da Bahia, Manoel Vitório, por ocasião do anúncio do desconto.

Na maioria dos Estados, o desconto para pagamento à vista é de 3%.

Especialistas recomendam que, caso a pessoa disponha de recursos, dê preferência para o pagamento à vista. Se for necessário parcelar, a dica é organizar as finanças para que as parcelas caibam na renda da família.

Recorrer a empréstimos, limites do cheque especial e outras formas de crédito para pagar o imposto costuma ser furada, segundo os especialistas, devido aos altos juros cobrados.